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Lula, Nicolas Maduro e o realinhamento da América Latina

Quando direita e esquerda se unem para acusar Nicolas Maduro de ditador, talvez o presidente venezuelano esteja seguindo o caminho certo

É uma marca do tempo presente a obsessão da esquerda pela democracia, mas parece que a direita padece da mesma doença. Setores bovinos da imprensa bateram os tambores de ódio porque o presidente venezuelano Nicolás Maduro visitou o Brasil e reatou compromissos com o presidente Lula.

Além de ambos os lados do espectro ideológico nutrirem uma ideia pobre e rasteira sobre o conceito de democracia e como tal deveria funcionar, nenhum nem outro sabem explicar porque Maduro seria supostamente um ditador. A extrema direita espumou de ódio ao ver oficiais das Forças Armadas baterem continência para o presidente venezuelano , um tratamento dado a todos os chefes de Estado, enquanto que setores DEGENERADOS da esquerda acusam o presidente venezuelano de ser um ditador porque este exerce um regime forte e que revela alguma inclinação conservadora em relação à moral e aos costumes tradicionais. Mas governo tem que ser forte!!!! Qualquer um que se lance presidente sem legitimidade e que faça oposição contra o governo de ocasião (na condição de serviçal de uma potência estrangeira) deve ser enquadrado de imediato como um inimigo da pátria. O Governo de Hugo Chavez (1998-2013) soube conter os abusos de poder do Poder Judiciário, enquanto que no Brasil o STF está tutelando a política nacional desde o julgamento do Mensalão , ou seja, são mais de 10 anos de interferência do Judiciário sobre os outros poderes da República. Não há governo que consiga se sustentar com estabilidade sendo alvo de agentes públicos que exercem poder perene na máquina do Estado e que não se submetem às eleições e ao mesmo tempo querem tutelar e influenciar o mandato de autoridades eleitas pelo povo brasileiro.

Ao contrário do presidente Lula, Chavez e Maduro não nutriam qualquer ilusão em relação ao discurso da democracia liberal e propuseram reformas intistucionais para blindar a Venezuela de interferências estrangeiras que pudessem cooptar agentes internos da Venezuela (seja da máquina do Estado ou da oposição). Após sucessivas tentativas de golpes de Estado que foram executadas desde a época do presidente Hugo Chavez, a Venezuela se aproximou de parceiros estratégicos como a Rússia, China e Irã e está pondo em prática o que é necessário fazer para se blindar contra as sanções vindas dos EUA e da Europa .

Nicolas Maduro tem surpreendido analistas políticos por estar governando apesar das dificuldades herdadas da época de Chavez . Queda do preço do barril de petróleo, inflação elevada, sanções econômicas vindas do exterior e tentativas de golpe de Estado são fatores que podem derrubar qualquer governo, não importa a sua orientação Ideológica. A Venezuela resistiu a tudo a isso e encerrou o ano de 2022 com um crescimento de 12% do PIB, enquanto que o Brasil patina em 1% .

A direita e a esquerda precisam parar de rotular os líderes políticos de ditadores a partir de critérios viciados e aprender a enxergar a política por meio do desenho institucional dos governos e dos seus respectivos resultados. Relações entre governos podem se basear na afinidade ideológica e no alinhamento dos valores que ambos possam compartilhar, mas governos são passageiros. Relações entre Estados são permanentes no tempo e quando se trata de alinhamento geopolítico que envolve os países mais relevantes da América Latina, Venezuela, Brasil e Argentina (os 2 últimos são membros dos BRICS), o interesse nacional dos países devem se sobrepor às paixões ideológicas