Arquivo da tag: Oriente Médio

EUA voltam a ameaçar o Irã

Resultado de imagem para irã refinaria fotosProvavelmente o Irã será a próxima potência do Oriente Médio. E com condições de por as cartas na mesa para se contrapor aos interesses dos Estados Unidos, os iranianos representarão um desafio mais ameaçador à ordem mundial gestada pelos Estados Unidos na medida em que o Irã se revelar uma potência nuclear com capacidade de dissuadir qualquer tentativa de invasão norte-americana ao seu território.

   Tão logo  o presidente Donald Trump tomou posse em Janeiro de 2017, os EUA bombardearam 3 países em 3 meses consecutivos: Iêmen, Afeganistão e a Siria.    O discurso utilizado por Trump na  campanha  presidencial sobre se isolar internacionalmente para cuidar dos assuntos internos de seu país caiu por terra porque o modelo de crescimento praticado pelos EUA está inexoravelmente ligado ao imperialismo, uma forma de dominação global que está baseada em uma estrutura de dominação global que permite aos Estados Unidos exercerem o status de potência mundial na política, no militarismo e na economia internacional.

   O sistema de relações internacionais criado no pós-guerra é moldado por instituições multilaterais nas quais os Estados Unidos possuem proporcionalmente maior peso e maior poder de decisão. No Conselho de Segurança da ONU os EUA possuem assento permanente  função é punir líderes e países que não cumprem as normas impostas pela ONU. Na OTAN, aliança militar criada em 1949 com o propósito de unir os países capitalistas contra a União Soviética, os Estados Unidos lideram a aliança por serem os maiores financiadores da infraestrutura bélica e dos conflitos que envolvem seus membros signatários contra os seus supostos inimigos. Podemos citar como exemplo a discussão debatida na ONU de invadir o Iraque em 2003. O órgão vetou a invasão norte-americana no país de Saddam Hussein, mas os Estados Unidos não obedeceram e tiveram o apoio da Inglattera na invasão do Iraque. Por ser uma potência militar hegemônica na época, nenhuma outra nação- membro da ONU teve condições de desafiar os EUA. Dos 5 membros permanentes do Conselho de Segurança, apenas Rússia e China se opuseram à guerra do Iraque, mas não conseguiram por meio da força dissuadir os EUA.

   A questão nuclear no mundo é regulamentada pela Agência Internacional de Energia Atômica, sediada em Viena e fundada em 1957. Teoricamente seu propósito visa conter a proliferação de armas nucleares e evitar que armas de alto potencial destrutivo caiam em mãos de grupos terroristas. Daí a necessidade de inspetores da Agência exigirem visitas periódicas em países que estejam desenvolvendo algum tipo de programa nuclear para verificar se o investimento em tecnologia nuclear está sendo direcionado para fins pacíficos ou militares. Geralmente os países que investem em tecnologia nuclear são transparentes na condução de suas pesquisas e investimentos. O problema ocorre quando a AIEA desconfia de algum país que esteja desenvolvendo tecnologia para enriquecer urãnio. Se a AIEA não autorizar o desenvolvimento  da tecnologia de enriquecimento de urânio em um determinado país sob inspeção internacional – que geralmente não é alinhado com a agenda internacional das potências mundiais-  o país em questão sofrerá uma série de restrições internacionais que colapsará a sua economia interna, seja pelo isolamento diplomático ou pelo congelamento de reservas internacionais. Tais decisões passam pelo Conselho de Segurança da ONU, ou seja, a Agência Internacional de Energia Atômica é uma instituição de caráter multilateral, mas que integra a estrutura de dominação global liderada pelos Estados Unidos e pelas potências europeias. Os países que integram o sistema de relações internacionais na qual os EUA se projetam de forma hegemônica acabam por terem seus níveis de soberania relativizados ou bastante reduzidos devido às regras internacionais impostas pela ordem internacional vigente. No caso da AIEA, quem assina o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP) fica proibido de desenvolver armas nucleares ou aplicar qualquer tecnologia nuclear para fins militares. A consequência imediata do TNP é o desequilíbrio de poder no mundo entre os 5 menbros do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Inglaterra, França, Rússia e China), todos detentores de armas nucleares, e os demais países que por imposição internacional ficam impedidos de investir em armas nucleares para pelo menos afirmar a soberania nacional. Em outras palavras: os países que formulam as regras da ordem mundial para o restante do mundo não se submetem a elas.

   O domínio do ciclo de enriquecimento de urânio é fundamental não apenas para produzir energia nuclear , mas para produzir armas nucleares, que necessitam de 90% de taxa de enriquecimento . Países que dominam o ciclo de enriquecimento de urânio estão tecnicamente habilitados para produzem bombas nucleares. É neste quesito que o Irã virou notícia na imprensa mundial. Desde o Governo do presidente Mahmmoud Ahmadnejad (2005-2013), o Irã começou a investir pesado na técnica de enriquecimento de urânio para diminuir a dependência em relação às encomendas vindas do exterior. Dado o fato de que o Irã estava sob sanções econômicas desde a Revolução Islâmica de 1979, seria praticamente impossível  para o país adotar algum modelo de desenvolvimento interno estando subordinado às regras internacionais impostas pelas potências ocidentais via Conselho de Segurança.
O presidente Ahmadnejad determinou a aceleração do programa nuclear iraniano muito em função do contexto geopolítico do Oriente Médio. Após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, o presidente George W. Bush inaugurou uma campanha ao terror elencando um conjunto de países que, mediante critérios ideológicos, foram acusados de estarem envolvidos com o atentado das Torres Gêmeas: Iraque, Irã e Afeganistão. Em 2001 os EUA invadem o Afeganistão; em 2003, invadem o Iraque. Ambos os países fazem fronteira com o Irã e estavam sob ocupação militar em caráter permanente.  Em 2011, na esteira do que ficou conhecido como “Primavera Árabe”, a OTAN ( leia-se: EUA, França e Inglaterra) ataca a Líbia, impõe uma zona de exclusão aérea sobre o país e instrumentaliza grupos armados para derrubar o regime do presidente Muammar Kaddafi. Os fatos mostram que o programa nuclear iraniano foi importante para dar ao país capacidade dissasória para se proteger de uma eventual intervenção militar dos EUA ou da OTAN. No entanto, os EUA continuariam a utilizar todos os instrumentos de pressão para obstruir a economia do Irã para além das sancões econômicas.

   Em visita à Arábia Saudita para fechar uma venda de armamentos em 110 bilhões de dólares, Trump flertou com a ideia de desfazer o acordo nuclear iraniano que foi selado na gestão de Barak Obama. O acordo foi mediado pela França , Alemanha e Inglaterra e que permitiria ao Irã desenvolver a tecnologia de enriquecimento de urânio para fins pacíficos.
No entanto, Trump ressuscitou a retórica de ameaça nuclear promovida pelo regime xiita ,alegando que o acordo precisaria ser desfeito para a segurança do mundo. Em visita a Israel, o presidente americano afirmou que o regime sionista e a Arábia Saudita deveriam  se unir para não permitir que o Irã obtivesse armas nucleares.

   Sob o pretexto de que o Irã seria uma ameaça ao Oriente Médio caso obtivesse uma arma nuclear, Donald Trump vem mexendo o tabuleiro da região para tentar enfraquecer o regime iraniano e equipar com armas sofisticadas o exército saudita é parte desta movimentação. Sem qualquer motivo justificável, Trump impôs novas sanções ao país, uma atitude contra-producente uma vez que o Irã aceitou as condições acordadas do acordo nuclear com o presidente anterior Barack Obama. Só que desta vez o efeito seria menos danoso  dada a aproximação do Irã com a União Europeia, a principal parceira comercial dos iranianos atualmente. Empresas como a TOTAL e Alstom, ambas francesas, tem selado contratos de prospecção de petróleo no país. Apesar da França ser membro da OTAN, sua aproximação com o Irã reflete o pragmatismo da política externa do atual presidente, Emanuel Macron . Se até um membro da OTAN não vê problema no programa nuclear iraniano, qual seria o interesse dos EUA em obstruir o Irã?
  Desde a  gestão do então presidente Mahmmoud Ahmadnejad,  em 2009, O Banco Central iraniano  vem gradativamente substituindo suas reservas internacionais de Dólar para o Euro e sua composição tem se diversificado na medida em que o país passou a aceitar o Euro como moeda de troca para a venda de petróleo. Este pode ser provavelmente o principal motivo pelo qual os EUA querem a todo custo enfraquecer o Irã, pois o aumento da demanda pelo Euro iria de imediato desvalorizar o Dólar e cometir pelo mesmo espaço econômico. Se isso ocorrer, os EUA terão dificuldades de captar recursos para financiar a sua dívida pública, que está em mais de 30 trilhões de dólares. Mais que isso, isso poderia incentivar uma corrida pelo Euro e consequentemente colapsar o Dólar, que desde Bretton Woods  é utilizada como moeda de reserva internacional.   Cabe lembar que os Estados Unidos, em 2003 , invadiu o Iraque pela mesma razão: evitar a desvalorização do Dólar frente ao Euro porque o presidente Saddam Hussein havia se aproximado da União Europeia para acumular reservas em Euro para financiar as importações de itens de caráter humanitário. Em Novembro de 2000, Saddam Hussein afirmara que aceitaria o Euro para a venda de seu petróleo. O Euro, naquele exato momento, se valorizou 20% frente ao dólar e provocou uma fuga de capitais para fundos de investimentos com reservas em moeda europeia. A partir deste momento, o  então presidente George W. Bush empreendeu uma campanha feroz mundo afora para classificar o regime de Saddam Hussein como uma ameaça ao mundo por supostamente possuir  armas de destruição em massa.  Após a invasão no Iraque, verificou-se de que Saddam Hussein não possuía armas de destruição em massa, nem convencional, nem química nem nuclear. Como dizia Marx, a história acontece como farsa e se repete como tragédia.

http://money.cnn.com/2016/02/09/investing/iran-euro-us-dollar/index.html

http://www.reuters.com/article/us-oil-iran-exclusive/exclusive-iran-wants-euro-payment-for-new-and-outstanding-oil-sales-source-idUSKCN0VE21S